Decideret 

“Cidreria de Copenhagen que elabora cidras de variedades antigas de maçãs, petnats de frutas e misturinhas de maçãs + outras frutas ( até uvas ). Tudo orgânico, coletado de hortas, variedades antigas, aquele esquema que a gente ama.
Na verdade eles são muito mais “fermentadores de frutas” do que apenas cidreria.

No próprio site deles eles escrevem:
“Wines are not only made from grapes. We work to push the boundaries for what fruit in a bottle can be”
( vinhos não são feitos só de uvas. Nós trabalhamos para ultrapassar os limites do que frutas engarrafadas podem ser ).

É, pois é. Não sou a única doida com esse discurso, gente, e se for preciso trazer uns gringos pra reforçar essa missa, a gente traz 😅.

Berries todas, cerejas, ameixas, uvas, maçãs. Uma safra refermentando outra, maceração carbônica de frutinhas vermelhas e outras loucuras deliciosas.

Infelizmente eles ainda não estão no Brasil, mas é o tipo de coisa que combina muito com a gente. Bolhas, acidez, outras frutas, fermentações utópicas.
Tomara que alguém resolva importar em breve, e que garrafas como essas reforcem aos Brazucas … que vinho não é só de uva.”

Escrito por Lis Cereja

 Antoine Marois 

“Antoine ( @domaineantoinemarois ) produz sidras faz cerca de 5 anos em Cambremer, em uma propriedade antiga que ele herdou da família.

A primeira vez que ouvimos falar dele foi lá na La Cidrerie e depois todos os produtores de sidra e poiré que fomos passando no caminho diziam a mesma coisa: “vocês tem que conhecer o Antoine”. Dito e feito, fomos conhecer o Antoine, e obviamente, ficamos encantados com o trabalho dele.

É até difícil falar sobre as sidras pois todas elas são muito diferentes entre si e igualmente maravilhosas. Mais secas, menos secas, parcelares ( de uma parcela só de macieiras ), além de curiosidades como o “vinho” de maçãs ( sidra sem borbulhas ) e a cidre de glace, uma sidra doce feita com maçãs congeladas. As cuveés parcelares são cada uma de um pedacinho diferente do pomar, e a idéia é justamente mostrar as diferentes características do terroir.

Chegamos no auge do trampo, pós colheita, e Antoine estava macerando as maçãs, depois de processá-las, aguardando a hora de prensar.

As macieiras, de variedades como Fréquin Rouge, Mettais, Saint Aubin, Binet Rouge, Domaine, Rambeau, são todas cultivadas em manejo ecológico, e as sidras elaboradas sem aditivos, apenas um pouco de SO2 quando necessário.

Aliás, essa região da Normandia é uma das mais “famosas” no tema sidra – fica dentro do departamento de Calvados e a denominação local é a “Pays D’Auge”, sendo ponto de partida da “rota da sidra” e sede de alguns festivais de comida e bebida relacionadas à denominação de origem.”

Escrito por Lis Cereja

 Johanna Cécillon 

“A Johanna planta maçãs, pêras ( e uvas, mas isso a gente fala depois ) e elabora suas cuveés seguindo os preceitos da biodinâmica.

Interessante lembrar que a Bretanha tem muita influência celta, e os celtas por sua vez tinham uma percepção da natureza ( indivíduo e todo ) muito semelhante às concepções de Rudolph Steiner – que no fundo fez um apanhado de conhecimentos antigos essenciais aí para a humanidade e “traduziu” tudo isso na nossa linguagem – mais ainda, traduziu na linguagem agrícola, criando a agricultura biodinâmica.
( meu resumo tosco sobre o Steiner, pra variar )

Johanna nos lembra dessa relação da Bretanha, os celtas e a natureza até mesmo nos nomes das cuveés, todas elas com nomes de deuses e deusas da religião celta.

Aliás, curiosidade: os celtas não eram um povo único. Eram vários povos com religiões semelhantes, e foram chamados assim pelos gregos e romanos pra “simplificar”. Parte deles saiu de onde a gente conhece hoje como Alemanha e foi parar na Bretanha, e depois disso, atravessaram o canal da mancha e pararam nas… ilhas ali da frente, que, Tchãram, chamaram de Grã Bretanha. Entenderam? Bretanha, Grã Bretanha.

Bom. Falando sobre as uvas: a Bretanha e a Normandia hoje em dia são territórios “sem videiras”, praticamente. Primeiro por conta da filoxera, e depois pelos pacotes agrícolas que colocaram vacas e não frutas por ali. Resultado, quase não existem mais vinhas na região, e alguns produtores de sidra estão começando esse movimento de “re” plantio de videiras por ali, para que as videiras coexistam com as maçãs e pêras … e vacas.

As cuveés da Johanna ainda não estão no Braza, como boa parte das sidras que a gente conheceu por aqui.”

Escrito por Lis Cereja

 Cedric Le Bloas 

“Cedric está “sidrificando” faz seis anos, depois de rodar o mundo fazendo um tantão de coisas. Até no Brasil ele morou, então fala um português perfeito.

Cédric cultiva suas maçãs de maneira orgânica, diversas delas, de um montão de variedades locais. Estimula a fauna e flora local para combater as pragas e qualquer desequilíbrio no ambiente.

Na hora de fazer as cuveés, faz a colheita a mão e todos os processos manualmente, sem adição de sulfitos, sem adição de água, da maneira como se deve. “Pur jus”, repetiu algumas vezes: “é importante dizer que é só suco de maçã, nada mais, pois nossa legislação permite além de aditivos, 49% de água”.

“Aqui não temos filtros”, ele também repete várias vezes, se referindo ao trato com as pessoas e ao trato com as frutas, lembrando o tempo inteiro que precisamos de mais verdade e sinceridade no mundo, seja na agricultura, seja nas relações humanas.

Embora existam os mais resistentes, Cédric é da galera que gosta de inovar, usar a imaginação e criar. Tem cuveés cofermentadas com ruibarbo, com cassis, até mesmo com lúpulo. Brinca com a secura e a doçura das maçãs e dos blends, faz uma que parece uma lambida de ardósia de tão mineral e outra gorda e arredondada como uma manga madura.

( as cuveés eram muito diferentes entre si, mas todas tinham aquela mesma faísca que a gente só encontra nas mentes inquietas de alguns produtores )”

Escrito por Lis Cereja

 Herout 

“Resumindo muito a historia, a cidreria trabalha com cultivo orgânico e fermentação natural e sem aditivos desde a década de 70. Pois é. A antiga proprietária ( que ainda trabalha com eles ) teve essa idéia doida, bateu o pé e conseguiu décadas atrás começar com esse trabalho nos pomares, contra toda a onda industrial e química da época .

Hoje quem toca o negócio é o Jean-Baptiste, que manteve a antiga equipe e elabora as cidras com os pomares antigos, está plantando alguns novos, e começou a experimentar muita coisa, como amadurecimento de sidras em barris de calvados, de vinho, etc.

Eles estão dentro da aoc Cotentin, região que tem predominância de maçãs amargas ( lembrem que existem na produção de sidras maçãs amargas, doces e azedas ). Essa característica faz com que as cuveés sejam bastante tânicas, secas, minerais, e ótimas para amadurecer ( esse negócio de que sidra não envelhece é puro mito, depende de como ela é feita ).

A degustação foi longa. Uma série de sidras, com as mais variadas “variantes”, vários amadurecimentos em barris diferentes, cuveés parcelares ( de uma só parcela de pomar )… mais toda a linha de calvados ( falo mais sobre esse destilado de sidra logo logo ), de jovens até com décadas de amadurecimento, e pommeau.”

Escrito por Lis Cereja

 Eric Bordelet 

“Falou em sidra, falou em Éric Bordelet.
( aleluia que já tem as sidras dele no Brasil, essas pelo menos a gente não fica passando vontade ).

Ele foi um dos primeiros, lá na década de 90, a elaborar sidras da “nova onda de sidras” que vemos hoje, trabalhando o cultivo em manejo biodinâmico e as cuveés sem aditivos.

Todo mundo sabe a história dele: Éric foi por muito tempo um dos grandes sommeliers franceses e resolveu voltar para a Normandia e fazer sidras. Mas não só fazer para sidras: para elevar ao máximo a elaboração das sidras, em técnica, qualidade, inovação, estudo.
Éric também trabalhou muito tempo com Didier Dagueneau, ícone da vinificação natural, que direcionou muito do seu pensamento de vida e trabalho.

É incontestável que as cuveés de Éric são uma porrada. E ele recebeu muita porrada na vida também: fora da apelação de origem, até hoje não recebe nenhum incentivo para a produção, e teve que se virar, desde o início, com essa idéia doida de elevar o nível da qualidade dos fermentados de maçã.

Hoje em dia, obviamente, ele não precisa de nada além do nome e da sua história para vender as sidras.
Pra mim o mais é lindo de ver é que ele, mesmo depois de décadas de porrada do mundo e um visível cansaço com as bobeiras do mesmo, ainda brilha os olhinhos nos contando de um novo fermentado que ele está fazendo, que não é sidra nem poiré… é o cormé, feito de uma frutinha antiga e quase esquecida por aqui.
Parente das maçãs e das pêras, o cormé já foi muito usada pra fazer birita mas hoje em dia ninguém faz mais. E muita gente nem lembra da existência da pobre coitada.

Ninguém, vírgula. O Éric lembra e faz questão de fermentar. E fica sensacional. Como ele mesmo diz, é “abrir uma caixinha nova no seu cérebro”, afinal, Cormé não parece vinho, não parece poiré, não parece sidra, parece…. Cormé.

Éric sai pela região caçando as frutinhas, colhendo manualmente as maduras – direto do chão, como maçãs, colocando as bichinhas no carro e transformando essas pequenezas esquecidas em fermentados finíssimos, delicados, intrigantes.
Pois é. Existe todo um mundo além da uva, além da maçã, além da pêra.”
Escrito por Lis Cereja

 Domaine Dupont 

“Cidreria clássica, familiar, do final do século 19. Produzem sidras, calvados e pommeau, além de umas doidices como calvados em madeira de rum e calvados em madeira de whisky.

Não adicionam nada na elaboração das sidras, e a agricultura é certificada orgânica faz dois anos.

Mathieu trabalhou durante anos com vinho, como sommelier, e por conta da família voltou para a Normandia…. E consequentemente, para a produção de sidras.

Interessante o movimento crescente de “encarar a sidra com a mesma seriedade que se encara o vinho”. Maquinários, técnicas, muita coisa do mundo do vinho, inclusive do mundo do vinho natural, está “migrando” para o mundo da sidra, relegado no último século a uma “bebida de velhinhos” ou “bebida de fazendeiro”.

A nova onda de produção de sidra ( que começou lá na década de 90 com alguns caras como o Eric Bordelet ) trazem pro mundo da maçã muito do mundo da uva: o refinamento de técnicas, o refinamento do paladar, a preocupação com o terroir, elaboração de sidras de guarda.”

Escrito por Lis Cereja